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PETFLIX - "Nise, o coração da loucura" e a arteterapia na Psiquiatria

SINOPSE


Imagine viver uma realidade assustadora e adentrar uma atmosfera tensa em um centro psiquiátrico rodeado por tratamentos agressivos como a lobotomia, lidar com a dor e o sofrimento dos pacientes negligenciados, além de encarar uma resistência persistente e aborrecedora por parte dos médicos defensores de tais “terapêuticas”... Bem, o filme brasileiro estreado em 2016, em que Nise da Silveira é interpretada por Glória Pires, narra a história da Dr.ª Nise da Silveira, uma obra baseada em acontecimentos reais, em que a médica inova o tratamento de pacientes psiquiátricos no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro (primeiro hospício do Brasil, inaugurado com o nome de Pedro II, em 1852 e atual Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira), em meio a um tempo cercado por procedimentos psicocirúrgicos e em meio a um tratamento rude, o qual fora imposto aos pacientes.


Era um período difícil, com colegas de trabalho se recusando a dar credibilidade ao potencial tratamento por meio da Arte e das Humanidades, apesar de os pacientes terem apresentado uma melhora incontestável e de se tratar de um tratamento não violento e o genuíno.


Tudo isso começa quando a Dr.ª Nise Silveira é alocada no setor mais menosprezado do centro psiquiátrico, após retornar ao local depois de um exílio. Trata-se do setor de terapia ocupacional. Com o tempo, a deslumbrante arte do inconsciente se revela, de forma que a vida de cada paciente se transforma, pois estes veem na arte (a pintura, a modelagem e música) algo que é mais que um refúgio - também é um lugar de fala, por meio da qual expressam seus sentimentos, suas dores, e é com ela que resgatam e confrontam suas questões pessoais mal resolvidas. Por meio das obras que os pacientes-artistas produzem vemos como o ateliê impacta o comportamento e o autoconhecimento assegurado pela prática ocupacional. Sem dúvida, é um filme incrível, que traz o extraordinário, orquestrado por muito amor, muita arte e muita loucura!

  • Se você gosta de filmes de drama e biografia, este filme é bem indicado para você!

  • Veja o trailer:

  • Recomendamos muito a leitura do seguinte artigo, ele trata das representações femininas neste filme biográfico de Nise:

Nise, o coração da loucura” - representações femininas em um filme sobre a terapêutica ocu
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  • Também recomendamos a leitura dos artigos presentes nas nossas referências, todos estão disponíveis on-line, em livre acesso.

MAS QUEM FOI A DR.ª NISE DA SILVEIRA?


Nise da Silveira foi uma médica psiquiatra alagoana, que revolucionou a Psiquiatria brasileira, foi a única mulher em uma turma de 158 alunos na Faculdade de Medicina da Bahia, cujo traço mais marcante era a inovação do cuidado, a sua luta antimanicomial em que a doença mental, em particular a esquizofrenia, foi transposta da psicopatologia médica para o âmbito cultural e artístico, mediante o reconhecimento da singularidade de cada paciente-artista e mediante o usufruto da arteterapia como um recurso psicoterapêutico, como uma forma de reabilitação e reinserção social, uma forma de acessar o mundo hermético e inconsciente da loucura. Entre 1983 e 1985 o cineasta Leon Hirszman realizou o filme "Imagens do Inconsciente", trilogia mostrando obras realizadas pelos internos a partir de um roteiro criado por Nise da Silveira.

  • Os quadros acima foram pintados por pacientes da Casa das Palmeiras (pacientes de Nise). Esses pintores foram retratados também no filme, como personagens de destaque.

O Museu de Imagens do Inconsciente tem uma perspectiva fundante na Psicologia Analítica de Jung, foi de fato fundado em 1952 com as obras do clientes (como os pacientes são chamados no filme), sendo que o ateliê da ala de terapia ocupacional (a Casa das Palmeiras) de fato existiu e foi montado com a ajuda do artista plástico Almir Mavignier (também retratado no filme).

  • Seguem os vídeos de Leon Hirszman em que Nise faz um leitura das pinturas dos seus paciente (as imagens do inconsciente), confira!


A arteterapia veio para dar vida ao inconsciente e dar liberdade às emoções humanas, acessando a interioridade dos mundos esquizofrênicos, perscrutando regiões misteriosas pluridimensionais diametralmente opostas às realidades ditas “reais” ou “conscientes”: “o marginal, o louco, o psiquiatrizado torna-se artista e aos olhos do espectador gênio, ou seja, o museu se tornou um grande mediador entre o contexto manicomial e o mundo plural da arte, nas palavras da Dr.ª Nise:

"A terapia ocupacional como a emoção de lidar e suas consequências.”

A morte da médica, no dia 30 de outubro de 1999, deu-se após a morte de todos os pacientes-artistas que cuidou ao longo de mais de cinco décadas. Assim, sua contribuição para a saúde mental e para a Psiquiatria foi emblemática e refletem sua dedicação ao escopo e sua resistência ao modelo médico hospitalocêntrico da Psiquiatria vigente, exigindo-lhe muita paciência e muito tempo, como ela mesma afirmava:

“O mundo contemporâneo é impaciente. A sociedade tem pavor de resultados a longo prazo.”

Aqui selecionamos um pouquinho da história de vida de Nise, mas indicamos muito que você pesquise mais sobre sua biografia, é um vivência rica e vale muito a pena! Se desejar consulte a nossa bibliografia de referência.

  • Conheça mais sobre neste vídeo que indicamos e que fala sobre a história do Museu de Imagens do Inconsciente e um pouco sobre a interpretação das obras dos pacientes-artistas de Nise:

  • Assista também à dr.ª Nise da Silveira no posfácio de "Imagens do Inconsciente" nestes dois vídeos:



A CURA PELO AFETO E PELA ARTE


O filme não fala tão somente sobre pintura e modelagem, é explorado algo muito além: o amor e a sensibilidade, visto também mediante o apego dos pacientes mais agressivos aos animais do centro psiquiátrico e mostra o quão terapêutico, reabilitador e tenro era esse convívio. Há relatos e estudos sobre o bem-estar promovido pela zooterapia, especialmente com os cavalos (a equoterapia), pois os animais “organizam os sentimentos” dos pacientes, não é à toa que, nessa seara, foram chamados por Nise de “coterapeutas”, especialmente cães e gatos. Tanto que Nise escreveu um livro sobre os gatos: "Gatos, a emoção de lidar", que na sua perspectiva são mais do que meros caçadores de ratos.


E no que a arte contribui? No ateliê, todos se sentiam à vontade e havia total liberdade para se experimentar e manobrar os sentimentos, era tudo espontâneo, um processo criativo de livre expressão. Nise foi uma grande estudiosa dessa questão, analisou e fez a leitura da produção dos pacientes por uma ótima perspectiva, sobretudo, das mandalas (eram predominantes entre as pinturas), e ela destacava as mandalas como símbolos que mostravam a tentativa de reorganização da psique esquizofrênica e que a psicoterapia, por meio da arte, instigava uma linguagem arcaica, coletiva e universal, ou seja, as pinturas e esculturas funcionavam como uma ponte entre Nise e o inconsciente dos pacientes; como disse o crítico da arte Mário Pedrosa:

“O que é a arte, afinal, do ponto de vista emotivo, senão a linguagem das forças inconscientes que atuam dentro de nós?”

Nise foi pioneira da Psicologia de Carl Gustav Jung no Brasil, e até na América Latina, em que Jung se referia às obras de arte como uma reorganização das condições psíquicas. O ateliê montado era tão autêntico que se tornou um encontro para críticos e artistas renomados. Por outro lado, o filme permite destacar alguns aspectos da Psiquiatria na época, como seu caráter orgânico e fisicalista.

Adelina Gomes, paciente da Dr.ª Nise da Silveira e personagem de destaque no enredo do filme. Diagnosticada com esquizofrenia e autora de autênticas e conhecidas pinturas, foi uma pintora brasileira de destaque.

A metodologia é não violenta e, sobretudo, movida pelo afeto e pelo acolhimento ao paciente em sofrimento mental, tanto que Nise disse uma vez, confrontando um colega arrogante e cético quanto à arteterapia:

"O meu instrumento é o pincel, o seu é o picador de gelo."

ARTETERAPIA E PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL


A arteterapia é um dispositivo psicoterapêutico transdisciplinar, assistencial, dinâmico e, sobretudo, não verbal, com grande potencial transformador e um grande auxiliar no autoconhecimento do ser humano, ajuda em aspectos emocionais, aumenta as potencialidades criativas de expressividade por ser uma prática integrativa de saúde. Em síntese, é uma elaboração estética com o fim de promover saúde e bem-estar. É característica a manifestação do inconsciente mediante iconografias, em que as imagens, na perspectiva da Psicologia Junguiana, representavam uma simbolização do inconsciente individual e até coletivo. As melhorias promovidas acontecem nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional dos pacientes, bem como estes interagem mais socialmente, revivem, superam e confrontam situações pessoais desconfortantes de modo menos danoso do que antes, promovendo encorajamento, empoderamento e aliviando, assim, o sofrimento mental. Além disso, se desenvolve a concentração e a coordenação visomotora e espacial.


JANEIRO BRANCO: O MUNDO PEDE SAÚDE MENTAL

  • Publicamos este PETFLIX em janeiro e trazemos uma associação entre essa indicação e a campanha em prol da saúde mental...

  • O filme e a própria história da dr.ª Nise da Silveira abordam com muita propriedade a importância da saúde mental e emocional do ser humano, mas lembrando que em todo mês se deve dar importância ao assunto. Desde sempre, a saúde mental foi uma questão de saúde pública, mesmo que tenha já sido muito negligenciada, porém continua claro, em tempos contemporâneos, que o mundo todo pede saúde mental! E janeiro é o mês escolhido para isso, porque é nessa época em que as pessoas estão mais propensas a pensarem em suas vidas e relações pessoais. Vale frisar a importância de se reivindicar por mais políticas públicas em prol disso. A saúde mental envolve múltiplos fatores, inclusive aspectos socioeconômicos. Valorize suas emoções e precisamos lutar para que se dê mais atenção à saúde mental!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PRINCIPAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS

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